TVI 24 - A curiosidade

Hoje, apetece-me desabafar. "Mas desabafar sobre o quê?", pergunta afávelmente o caro leitor. "Desabafar sobre a crise económica mundial? Desabafar sobre os casos recentes de violência doméstica ou pornografia infantil? Desabafar sobre a humilhante derrota do Sporting?", continua o gentil leitor perguntando na ânsia de perceber o porquê da minha inquietação. "Não", respondo eu de forma veemente. Apetece-me desabafar sobre algo muito pior que tudo isso junto. O primeiro dia do TVI 24.


É hoje que a malta da TVI estreia a sua nova pérola. "Lançar o canal nesta altura é um acto de coragem", diz José Eduardo Moniz. Também meter os meus tintins em cima de uma mesa de bilhar com um jogo a decorrer o é e nem por isso me sinto tentado. A verdade é que a malta da TVI tem demasiadas... paneleirices para dar a conhecer ao país. Confesso que nunca gostei da TVI e das suas infelizes aventuras no ramo da informação nacional. Mas a partir do momento em que sexo dentro da casa do Big Brother é notícia, meus amigos, o canal consegue atingir um patamar de tristeza informativa demasiado elevado para ser ignorado. Uns anos depois, confirmaria a minha teoria com a notícia "E as Just Girls lançaram hoje o seu novo CD".


Na verdade, desde os espaços de informação, passando pelas Tardes da Júlia e pelas telenovelas super-hiper-putaquepariu-repetitivas, pouco ou nada se aproveita que consiga atingir os níveis mínimos de qualidade. Ah, e aquilo dos Casos da Vida, já me esquecia. Um verdadeiro mimo.


Voltando ao assunto central, o TVI 24, e aproveitando um pouco da sátira feita pelos Gato Fedorento a este mesmo novo canal, dou por mim a pensar. "Mas que raio de conteúdos vão eles arranjar para preencher tanto tempo de antena?" Começo a imaginar reportagens sobre uma mulher que abriu a torneira e não tinha água porque lha tinham cortado (escândalo), um homem que estava a fumar e o cigarro apagou (imprevisibilidade), um padre que gosta de futebol (heresia)... Aguardo com extrema curiosidade. Não pela falta de conteúdo para um canal do género, até porque a RTPN e a SIC Notícias têm feito um óptimo trabalho, mas pelo tipo e pela qualidade do conteúdo em si.

Português imita

Este ano, passei o feriado de Carnaval a trabalhar, mais propriamente fazendo imagens dos carnavais de Ovar e Estarreja. Meus amigos, cheguei à triste conclusão (ou antes à infeliz e definitiva confirmação) de que o Carnaval português é mesmo triste. Ele é carros alegóricos que mais parecem betoneiras cobertas com papel celofane, ele é gordalhufas brancas a sambar, ele é homens vestidos de mulher (isto é o pior), ele é figurantes alegremente semi-despidos a sambar ao ar livre com a belíssima e agradável temperatura de 16 graus. Enfim, toda uma panóplia de elementos que, mais do que provavelmente, levam os brasileiros à maior das risadas.

Mas Portugal é assim. O que é de fora é sempre melhor. É o Carnaval, que é, cada vez mais, uma imitação foleira do que se faz nas terras do samba em detrimento do nosso próprio carnaval e respectivas tradições, é o Halloween (um dia ainda me hão-de explicar qual é a piada disto), são as séries televisivas (alguém vê o Liberdade 21, na RTP? Vejam, por favor), são os talk-shows (lembro-me vagamente do Boca-a-boca, com o Carlos Moura, uma terrível imitação do Conan O'Brien e Jay Leno). Mas porquê? Recordo com saudade os tempos do Duarte e Companhia, do Vamos ao Circo, do carnaval onde as máscaras eram bem mais importantes do que o samba ou carros alegóricos, até mesmo os tempos em que o campeonato português de futebol era composto por portugueses.

E agora é o acordo ortográfico, que segundo consta vai entrar em vigor já no primeiro semestre do ano. Modernices...

O segundo post

Esta vida surpreende-nos constantemente. Há cerca de duas semanas estava eu em casa, afogado no tédio e completamente perdido nos meus pensamentos ligados à inutilidade da minha vida naquela altura quando, após duas horas de zapping mecânico, cheguei a duas conclusões. A primeira é que os cerca de 50 canais que tenho em casa não dão nada de jeito quando não temos nada pra fazer. Claro está que, caso estejamos com algo importante em mãos mas terrivelmente aborrecido, qualquer programa nos parece interessante, mesmo até aquelas rusgas policiais do Fox Crime. A segunda é que já estava na hora de preencher o meu tempo livre com algo que, com maior ou menor exigência, me ajudasse a ganhar algum ritmo e fluência de "trabalho". "Epá", pensei eu, "vou criar um blog para partilhar com o mundo toda este rol de emoções, sentimentos e experiências infelizes que gerem a vida de um recém-licenciado desempregado". E assim foi. Crio o blog, dou-lhe um nome, publico o primeiro post. Contemplo a minha obra orgulhoso, qual Picasso depois de uma pintadela na tela (nada de segundos sentidos). "Está bonito", pensei. É um facto, está bonito. Coço o nariz, ajeito o cabelo e fecho a janela do Internet Explorer, convencido que, em breve, lá voltaria para publicar um segundo post. Na inocência da minha pessoa, imaginava-me alegremente a actualizar o blog quase que diariamente, com experiências ou piadas, enfim, qualquer coisa.

Mas não.

Algures no meio desta aventura plena de emoção e acontecimentos interessantes (weee), arranjei emprego. Estão a ver aquela sensação que sentimos quando estamos meia hora à espera do autocarro e ele não aparece, puxamos dum cigarro, acendemos e lá vem ele, a dobrar a esquina, com os faróis apontados para nós como quem diz "então agora é que te lembraste de fumar?" Eu não fumo, mas imagino que seja uma sensação de alegria e plena satisfação microscopicamente afectada por uma pontinha de chatice.

E neste momento aqui estou, a trabalhar, ocupadíssimo mas feliz da vida. E se ainda não desisti disto é porque descobri que, afinal, há quem tenha interesse em ler as minhas parvoíces. Vamos andando e vamos vendo.

O começo

Li no outro dia numa revista masculina relativamente conceituada dentro do género (não convém dizer o nome por princípios publicitários, mas posso dizer que começa num F, acaba num M e tem um H no meio) que um blogue consiste, nada mais, nada menos, num, passo a citar, "vomitar de emoções, pensamentos e outras parvoíces, esperando comentários e citações de outros blogues. São como a poesia moderna: há mais gente interessada em escrevê-los do que em lê-los". Devo dizer que concordo. No entanto, não posso deixar de estabelecer uma certa comparação entre esta afirmação sobre os blogues e a prática do coito. Há muito mais gente interessada em praticar o coito do que em assistir à prática do mesmo, e, no entanto, isso não significa que não existam bons praticantes desse dito coito cujo desempenho seja merecedor da devida atenção. Na mesma linha de pensamento, mas por outro lado, caso o desempenho fique aquém das expectativas, a malta, uns mais outros menos, diverte-se na mesma.

Foi assente nestes princípios que me resolvi aventurar nesta coisa dos blogues. Por variadíssimas razões. Duas, mais precisamente. Primeiro porque, precisamente por haver mais gente interessada em lê-los do que em escrevê-los, já quase toda a gente tem um e eu não gosto de ficar atrás nestas coisas da moda, e depois porque sou português, entenda-se fala-barato por natureza, que se acha no direito de comentar e criticar tudo e todos, considera-se o maior e, no final de tudo, é simplesmente estúpido.