Não pude deixar de concordar...

... com este texto postado num fórum sobre o festival Sudoeste 2010. Passo a citar:
"escrito por zé orelhas bff, Julho 16, 2010

há artistas presentes neste sudoeste dos quais só conheço uma música e em alguns casos nem gosto dessa música.

"ah tu não gostas porque nunca ouviste e tens ouvido duro e és feio e se não queres não vais" respondem os fãs

na verdade vou mesmo e um dos motivos é não conhecer bem os artistas

"não largues a droga não" responde quem está a ler este comentário

devia largar mas não largo porque o meu raciocínio até está em alguns pontos correcto:
-> não conheço, vou conhecer
-> não gosto, posso passar a gostar (quando era pequeno também não gostava de mousse de chocolate nem de filmes de terror)
-> se não gostar, tenho mais dois palcos para onde ir, milhares de pessoas para conhecer e muita cerveja para beber!

chega então o metaleiro e diz: "rock and roll, és uma menina se vais ouvir mika, eu gosto é de música hardcore como era dantes"

se gostas de te roçar em gordos transpirados é contigo, eu prefiro as fãs do james morrisson...

"o cartaz está pior de ano para ano, a organização é uma porcaria" queixa-se quem não tem mais nada para fazer

a tua mãe está pior de dia para dia mas o padeiro não se queixa

vivam e deixem viver, não se atropelem uns aos outros nos foruns que isso não está com nada"

Selecção Nacional: o cliché de aprender com o passado para construir o futuro

Acabou o sonho do Mundial. E diga-se de passagem que “sonho” é, de facto, a palavra mais indicada para definir aquilo por que Portugal ambicionava. Depois de uma fase de qualificação miserável, das lesões de peças fundamentais na estrutura da equipa e do treinador ter dado provas (umas atrás das outras) de não ter mão nos jogadores que convocou, a aventura neste campeonato do Mundo iria ser muito complicada.


Não quero, com isto, dizer que estou feliz pela eliminação da equipa das quinas. Nada disso. Torci, como qualquer bom português, do primeiro ao último minuto, da primeira à última jogada, do primeiro ao último dos 3783 directos que os canais de televisão fizeram da África do Sul. E sublinho-o porque acho que há dois tipos de adeptos no nosso país.

De um lado temos o adepto que, apesar de achar que não estamos a jogar nada, ou que a opção do treinador não foi a mais correcta, ou que sei-lá-mais-o-quê, apoia sem vergonhas e com a maior das forças a nossa equipa, vibrando com cada golo, com cada bola ao poste e insultando o árbitro a cada falta marcada contra nós. Do outro lado está o adepto derrotista, azedo, por vezes até algo “vingativo”, de uma forma ridícula e completamente desnecessária, que defende a todo o custo a eliminação precoce da equipa apenas e só porque o treinador não vale nada, os jogadores não valem nada, o Ronaldo é uma fraude, os jogadores seleccionados não deveriam ser aqueles e toda uma panóplia de ideias e razões que, plenas de verdade ou não, servem de justificação para um ódio vazio em relação àqueles que estão lá fora a defender as cores do nosso país.

Infelizmente o adepto “tuga” é, cada vez mais, assim. Triste, ruím, agoirento e desmotivado. Que quando ganha diz que temos grandes jogadores e quando perde diz que os jogadores que temos são uns fracos que não querem correr. Coisas da vida.

Posto isto, deixo aqui a minha breve análise à campanha da Selecção Nacional na África do Sul.

Ponto nr.1 – Os convocados
Muita tinta correu sobre este tema. O João Moutinho deveria ter ido? O Miguel Veloso não? O Ruben Amorim foi um mau substituto para o Nani? O Ricardo Costa não estava lá a fazer nada? Um verdadeiro deleite para a Comunicação Social e colunistas de opinião. Li e ouvi muita coisa, sobre variadíssimos jogadores, sobre variadíssimas posições. A verdade é que não li nem ouvi um único comentário em relação aos jogadores base da selecção. Aqueles 14 ou 15 fundamentais. E não li nem ouvi porque esses jogadores estavam lá. Os restantes 8 ou 9 são os de segunda linha, aqueles que serviriam de backup, que dificilmente jogariam. E nesse aspecto dou todo o benefício da dúvida ao seleccionador, que os escolheu mediante a estratégia que tinha pensado numa perspectiva de recurso, e não de base. As dúvidas entre a convocatória de Ricardo Costa, Miguel Veloso, Ruben Amorim, Carlos Martins ou João Moutinho seriam motivo para tanta discussão? Não me parece...

Ponto nr.2 – O “10”
Mais um aspecto que fez correr muita tinta. “Portugal não tem alternativas a Deco”. Claro que não! Desde há muito tempo que Portugal não tem alternativas a Deco. Essa é, aliás, a principal razão para o próprio Deco ter sido naturalizado e Portugal (Selecção) ter tantas saudades de Rui Costa (tecnicamente talvez mais até do que de Figo). Jogadores como ele, infelizmente, há poucos. Um jogador que assume o jogo, vem atrás buscar a bola, corre com ela, levanta a cabeça, descobre espaços e desequilibra com passes que rasgam defesas não surgem todos os dias. O que mais se aproximaria desta posição seria Danny, e esse estava lá. Não concordo com a entrada em discussão de Carlos Martins neste ponto porque não o considero um organizador. Eu pergunto se a culpa disto será do seleccionador nacional ou dos clubes que insistem na importação de jogadores brasileiros e argentinos em detrimento da escola nacional que tão bons jogadores criou.

Ponto nr.3 – A táctica
Na minha opinião, este é talvez o ponto mais importante desta selecção. Acho que o 4x3x3 tem sido, desde há muito tempo, um erro. Apesar da defesa consistente, o meio campo não funciona, a bola não chega ao ataque, Ronaldo anda perdido encostado à linha e o ponta-de-lança sempre sozinho entre os centrais. Tirando Quaresma (que já nem entra na equação), Portugal não tem um flanqueador capaz de bons cruzamentos há muitos anos. Lembro-me de Figo, Nuno Valente (não era um génio da bola mas era certinho nesse aspecto) e outros capazes de meter uma boa bola na grande área, como Maniche, João Pinto ou Rui Costa. Hoje, não temos um jogador capaz de efectuar um bom cruzamento. Simplesmente não há. O Raul Meireles acerta um em trinta, o Simão já nem nas bolas paradas (cada livre ou canto neste Mundial a favor da selecção era uma bola perdida), os laterais actuais são uma nódoa nesse aspecto e o Ronaldo tem aqui, talvez, o seu ponto mais fraco enquanto jogador. Não se percebe como é que um treinador não potencia as armas que tem para dar um melhor rendimento à equipa. Hugo Almeida é, claramente, um jogador diferente em 4x4x2, é assim que joga no Bremen, o Ronaldo é bastante mais eficaz como segundo ponta-de-lança (metê-lo sozinho lá no meio não lembra ao diabo) e mesmo o tal problema do nr. 10 ficaria resolvido, podendo Deco ou Danny desempenhar esse papel com muita mais liberdade assente num meio campo composto por três outros jogadores, garantindo uma maior consistência defensiva o que até poderia permitir uma subida mais agressiva dos laterais. Gostaria de, pelo menos uma vez, ver a Selecção jogar neste sistema.

Ponto nr.4 – O seleccionador
A forma como Carlos Queiroz é tratado pela Comunicação Social deixa perceber a anarquia que deve existir naquele balneário. Não tenho a mais pequena dúvida de que Queiroz percebe muito de futebol. Mas é demasiado educado, demasiado cavalheiro. Se virmos a forma como Mourinho ou Jesus (referindo-me apenas a portugueses) lidam com a imprensa deixando bem vincada a sua personalidade, ficamos a perceber o tipo de líder que é no balneário, do género “se estas a receber o que recebes então vais correr, vais comer relva. Se não concordares vais embora”. Se eu não tiver um chefe que me motive e mantenha ordem no meu local de trabalho, o meu desempenho vai ser mais negligente, mais descontraído. É um factor humano, é assim em todo o lado e no futebol não é diferente. Queiroz parece-me ser demasiado brando. E isso acabou por se perceber no final do Portugal - Espanha. As declarações de Deco e Ronaldo são um espelho disso mesmo. Acima de tudo sente-se a falta de um líder, de um factor de união, de um Jorge Costa, Figo ou João Pinto. Ronaldo não tem perfil para capitão. Isso não se aprende, vem da personalidade. A personalidade de Ronaldo faz dele um atleta competitivo, com vontade de vencer e, por isso, tão bom. Mas como capitão não funciona. Não se entende a insistência do Queiroz.
A questão “Ricardo Costa como lateral direito” foi, a meu ver, o maior erro de Queiroz. Não pela qualidade do jogador, sou daqueles que defende o Ricardo Costa porque sei que tem qualidade. Mas não a lateral, tem que jogar a central. Contudo, não foi por aí que a estratégia falhou.

Ponto nr.5 – Ronaldo
Para mim o melhor jogador do mundo. Aceito quem defende Messi, mas não tenho dúvidas em considerar Ronaldo mais atlético, mais completo, mais decidido e com mais capacidades físicas e psicológicas. Messi está há anos no Barcelona, Ronaldo marcou posição no Manchester United e está já a marcar no Real Madrid. Messi está na melhor equipa (e sublinho equipa) do mundo, que é praticamente a mesma há dois ou três anos e que é hoje uma equipa construída à volta dele (com um meio campo fortíssimo!). Ronaldo está a passar pelo processo de adaptação e mesmo assim fez o que se viu no primeiro ano em Madrid.
Fiz esta breve contextualização de opinião para falar do Ronaldo da Selecção. De facto, um Ronaldo mais apagado, menos decisivo, mais triste e zangado. Na minha opinião faz-lhe falta um sistema que permita retirar o melhor dele. Não sou daqueles que defende que um jogador é uma equipa. Não. Um jogador não joga sozinho, não ganha sozinho, por muito bom que seja. Mas se temos o melhor jogador do mundo temos que construir a equipa à volta dele, para criar um todo forte e podermos rentabilizar ao máximo o potencial dele. Aqui entra a já referida questão do sistema. Ronaldo já não é aquele jogador das fintas desconcertantes dos primeiros tempos em Manchester. É um jogador mais físico, mas objectivo, mais incisivo, com olhos fixos na baliza. A Selecção é a única equipa que insiste em colá-lo à linha num sistema 4x3x3. Para além disso, se a bola não chega lá a frente com a qualidade ou em quantidade devidas, então tudo se conjuga para um rendimento menor.
Em relação à atitude do Ronaldo, enquanto uns interpretam como má educação ou rebeldia parva, eu prefiro interpretar como alguém que não gosta de perder, ainda para mais tendo as cores nacionais ao peito. A isso, dou valor.
N.R. As declarações no final do Portugal – Espanha são uma excepção ao que acabei de dizer, mas nisto Ronaldo não foi o único. É a tal questão de união e liderança que não existe.

Repito que isto é apenas a minha opinião. Apoiei a Selecção do primeiro ao último minuto, vibrei com cada lance, gritei cada golo. Não apoio nem contesto a continuação de Carlos Queiroz. Apesar de ser notória a falta de capacidade de liderança do balneário, também sabemos que Queiroz é um fomentador da escola portuguesa, e nos tempos que correm há que dar valor a isso. Falta um líder naquele balneário, apenas e só isso.